sexta-feira, 21 de novembro de 2008

De gente que se acha...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008



Opus1

Hoje enquanto retornava pra casa, num ônibus enquanto-seu-metrô-não-vem. Comecei a rotina de revistas habituais quando me encontro nesses ambientes móveis. Enquanto a chuva caia copiosamente eu me dei conta da loura que estava sentada ao meu lado.
Do tipo cinqüentona, olhos muito maquiados (detesto essa palavra, mas a versão maquilagem é mil vezes pior), uma cara desconfiada que eu em principio pensei que era medo desse cabeludinho de barba por fazer, usando brinco e tatuagens que ela não viu mas imaginou.
-Aliás to meio de saco cheio do meu cabelo e de uma tatuagem específica.
Mas voltando a loura, movimentava-se muito e logo percebi que os movimentos sôfregos eram por puro nervosismo, abria e fechava a bolsa compulsivamente e a cada corrida que o zíper (essa palavra eu gosto) dava, ela me olhava de canto e pensava “Meus Deus tudo que eu precisava era um moreno desses”.

Opus 2

Quando eu trabalhava no Banco do Estado daqui, que fica ainda na praça 8 de Setembro daqui também. Aliás um lugar que demarca o centro da cidade, então já sacou que é um ponto comum pra acontecimentos dos mais variados né?!. Recordo-me das inúmeras vezes que o palco foi armado pra diretas já, impeachment de Collor, Lulalás e manifestações sindicais das mais variadas e curiosas. O que se destacava sempre nesses eventos, era uma figura rechonchuda que habitualmente vestia um shortinho largo e branco. Ah! como dançava. Não tinha pra ninguém, só dava ela.Os movimentos eram variadissimos, coisa de causar inveja a todas as louras e morenas do tchan e cia. Na verdade, a moça era incansável. Seus muitos quilos a mais não a impediam de traçar uma reta na imensa praça e atravessá-la num Pax-de-deux com ela mesma. E era bom saírem todos da frente, se não ela derrubava mesmo.
O solitário show não podia parar. Aliás, é fundamental lembrar que aquela diva louca, só parava quando um falador qualquer, interrompia o playlist pra reforçar o convite do evento.
Coitado, o que ele não percebia é que enquanto ele falava, o evento sentava-se num meio fio pra retocar a maquiagem para a próxima sessão.

Opus 3

Certa vez - pra variar - chovendo muito. Sim eu atraio chuva, e muita, do tipo tempestade querendo virar tornado. Entro num ônibus num terminal rodoviário desses insuportáveis e fedorentos da vida. Sento, e ponho-me a observar - aliás eu seria um ótimo scouter para alguma agência de modelos bizarros. Percebo que a minha frente num papinho animado, sentam-se duas jovencitas dessas clonadas, mas bem bonitinhas. A viagem inicia, a chuva cai, elas falam e ele olha para trás... Meu Deus o que era aquilo? Um senhor com cara de Speotyto cunicularia, começa a investir olhares ensaiados, tipo So Sexie - numa mistura cruel de Zé bonitinho sem laquê somada a uma versão indiana do Noel rosa - para as duas meninas. Elas conversavam e faziam de conta que aquele ser não estava à frente delas. Ele, meio coruja louca a todo instante virava-se para surpreendê-las com um novo olhar fatal. Vi passar ali vários deles, ele era o próprio lindo de plantão. Seu Laser Eye seria capaz de fazer Rodolfo Valentino virar uma odalisca e Marlon Brando a própria Gina lolobrigida. O que não esperávamos - elas e eu - é que ele havia preparado um grand finale pra toda aquela seduction. Numa derradeira virada o Macho fatale tenta sua última arma de conquista... Aparecendo do nada com um óculos de muitos graus, ensopado e embaçado que clamava por um limpador de parabrisas urgente. Faz cara de lindo e a mantém fixa aguardando o resultado.
As meninas entreolharam-se e eu também entreolhei-me... seguiu-se um breve silencio e ao mesmo tempo explodimos os três numa sonora gargalhada.
- Ele?!
Nem aí... virou-se pra frente e recolheu seu charme a nossa insignificância.


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A divisão do texto em "Opus" foi em homenagem a meu querido amigo Adriano Queiroz.
(Finalmente o Link dele tá funcionando)
Falando em obrigado, quero agradecer depois de um século e meio, a meu também querido amigo Ricardo do farelos & Silabas pela montagem fotográfica do novo (já velho) layout .

Imagem internet

31 contribuições para o avesso do Blog:

Cris Medeiros disse...

Sempre que leio seus textos fico me perguntando se vc vive da música ou tem outro emprego.

Desculpa hoje não to boa pra comentar...

Beijocas

Robson Schneider disse...

Isso é tão secreto quanto sua identidade...
hahahahahahahahahaha!

Felipe Lima disse...

Ri lendo essas coisas. Eu queria atrair chuva.

[Farelos e Sílabas] disse...

...

Ária 1:

Huahuahuahua!


Ária 2:

“The observer”: amo as surpresas dos detalhes. Teus textos, ainda que nos temporais, são de encharcar os minutos de deliciosas cotidianidades. Eu me sinto dentro dos ônibus, no papo ao teu lado pelas esquinas, sendo cutucado com “olha aquilo lá!”

E não é que olho?! E leio até o ponto final...


Ária 3:

Entreolhar-se a si. Gostei. Me bateu até inspiração...
Tem certas coisas que a gente não se arrepende,
Vir aqui, por exemplo. Pra todas as outras coisas
o tal cartão de crédito [sem merchandising]...

...

Anônimo disse...

iuhauihauihuiahuihuiahuihauihuiah
Ai, dei risada DEMAS.
Adoro seu jeito de escrever.

Otimo final de semana querido.
Beijao

Anônimo disse...

Sinto não ter estado junto naquele ônibus, observando os acontecimentos ali passados. Se ali estivesse estado, certamente teria rido junto contigo e as duas gurias.
Sempre tive a maior inveja de pessoas que conseguem viver a vida fácil, verdadeira. Eu não consigo.
Sempre que estou "em sociedade", sou social. Já minha irmã é verdadeira ao extremo, de ter ataque de riso em velório, e quase me colocar ao lado do defunto, de vergonha.
Mas tenho rasgos de riso quando me lenbro das cenas.
Adoro as tuas histórias.
Quando eu crecer, quero rir como você, in loco.
Beijos

Anônimo disse...

Crescer, Robson.

Luiz Gonzaga B. Jr. disse...

kkk!
Existem certos seres para os quais a gente olha e perguna: De que buraco esse aí saiu?

Hugo de Oliveira disse...

Oi amigo...sumido.
Gostei muito do post..viu.


abração

Débora Cunha disse...

desinspirada, nada a acrescentar hoje, quem sabe outro dia.

apenas digo "muito prazer, escreves muito bem"

Paulo Fernando disse...

Esssa coroa, hein! Sei não. Mas se fosse aqui no Rio de janeiro, ela provavelmente teria descido no próximo ponto, ou lhe agarrado na frente de todos, sem dó, nem piedade. rs

Adriano Queiroz disse...

Eterno observador, é isto que você é. E eu adoro. Quem escreve vive com os olhos no mundo e um mundo na cabeça.

Obrigado pela homenagem, Robson.

PS: O link da postagem funciona, mas o da lista de blogs ainda não, ces't la vie.

Abração.

Conde Vlad Drakuléa disse...

Grande Zé Bonitinho, o "perigote das mulheres", "Cameras close!" "Zé Bonitinho, aquele que não é o Chapolin, mas também tem uma marreta biônica." que como o conde Vlad "aquele que não é gel mas deixa a mulherada de cabelo em pé!"...
"Laser-Eye" tá excelente, Robson, tens que publicar um livro de crônicas, não é possivel... Genial a divisão em Opus... Vou fazer uma homenagem a esse grande artista Jorge Loredo, que aliás corre um boato foi preso e cumpriu pena por matar a mulher e o amante dela, quando certa vez chegou mais cedo das gravações na década de 60 e... Né? Não tenho certeza se esse boato é verídico, mas acho que deve ser mais boato mesmo...
Grande abraço Robson, o texto? "excepcional, maravilhoso, único"

Grande abraço...

Jana Lauxen disse...

Hahahaha.
Gostei.
Como já diria minha mama (sim, a Eliane):
- Se ninguém gava, o Zeca gava.
Hahaha.
Adoro isso.

Abração Robson
Ps.: tatuagem? Onde? Quantas?
Juro que por essa eu não esperava.
:)

nina disse...

Haha, que modo bonito o q vc tem de traduzir o cotidiano. O Opus 3 foi otimo. Bjao.

TIAGO JULIO MARTINS disse...

"numa mistura cruel de Zé bonitinho sem laquê somada a uma versão indiana do Noel rosa"

hahaha. Eu imaginei como seria essa figura: deu até medo.

ah, tava sentindo falta de ler textos leves e simples, sem aquela carga poética toda que, às vezes, deixa a gente com embrulho no estômago. Deu até vontade de escrever mais coisas assim...
Mês que vem.
'Brigado.

Beto Canales disse...

hehehehehehe

muito bom....

Robson Schneider disse...

Fico feliz com a possibilidade de escrever textos leves... as vezes é bom um refresco na mente e nas emoções, já que a densidade é inerente a esse aprendiz do aprendiz de crônista.
Vou responder só uma perguntinha que ficou no ar...
Jana tenho na verdade duas tatoos, uma no pulso e uma quase meia manga no ombro direito... essa é a que pretendo modificar, enjoei das cores.
Abraço super carinhoso a todos!

Fragmentos Betty Martins disse...

.olá:)_______Robson




______dei por mim sentada aqui na minha cadeira


no final duma viagem dum "espaço" (já não sei bem qual:)


.a ler estes fantásticos textos






________muitos parabéns. adorei estar aqui








voltarei se não se importar:)











beiJO_______C______CarinhO
boa-semana

Anna Bueno disse...

Gostei do seu jeito de escrever, simples e divertido.
Bjos!

Regular Joe disse...

Rapaz, fazia tanto tempo que não vinha aqui, que havia esquecido deste humor delicioso que você cria, da forma como você expressa suas idéias, de sua forma lúcida de ver o mundo...
Salutar esta minha visita, e só me resta agradecer pelo prazer desses minutos!
Abraços sinceros do João

Nathália E. disse...

As atitudes de algumas pessoas me deixam assustada.
Dia desses um cara não parava de olhar pra mim na rua. Passava minha frente, olha pra trás. Deixava eu passar na frente dele, me encarava.

Entrei numa loja e só saí quando ele desistiu de me esperar.
Ufa!

Anônimo disse...

Adorei a série 'opus', principalmente o texto 3. Delicio-me com tua versatilidade humorística.

Agradecendo pelo comentário que deixaste no meu espaço, quero te dizer que enterneceu-me o relato sobre o teu filhote... atitude mais linda! Que as bênçãos do Pai estejam sempre no coração de cada um membro dessa família tão bonita.

Fica um raio de luar brincando nos teus sonhos e um beijo no coração.

CARLA ROCHA disse...

INDIGNAÇÃO BÁSICA:MEU COMENTÁRIO NÃO APARECEU!!!!!!!ESCREVI QUASE UM PERGAMINHO E ELE DESAPARECEU... Vamos again: A divisão em Opus foi o máximo! Quanto a figura do onibus, maravilhosa observação do narrador! E hilária também! Quanto a cantoria lá no meu blog, inclua na lista do café, água, volta no quarteirão, ok? ;o))Desejar mais luz pra você é quase lugar comum, etão, só posso desejar que você continue iluminando os caminhos de nós, seus leitores! Beijo grande, grande abraço!

Michele Moura disse...

Robson querido...

Não é apenas chuva que tu atrai, mas também pessoas e situações "incomuns".

E isso é incrível!

Adoro a maneira como discorres a respeito desses encontros inusitados que tens. :)

A história a respeito do "Zé bonitinho" me fez lembrar de um colega de escola. Ele não se achava. Se tinha certeza!

Não sei se conheces um ditado que diz: "JÁ QUE NINGUÉM GAVA, ZÉCA GAVA".

Gavar = elogiar. A cacofonia em "Zéca gava" é proposital, pois o ditado costuma ser atribuído à pessoas que elogiam a si mesmas compulsivamente, quando NÃO têm razões para fazê-lo.

Acredito que o ditado serve tanto para o meu ex-colega de escola como para a "figura" que citaste.

beijo grande

Desarranjo Sintético disse...

Bom, quando a mulher que dançava, admiro pessoas que são-mais-elas-mesmas, e quando ao velho Sr. que se achava o Zé Bonitinho...devia ser um mala e nada mais restava do que uma gargalhada, esses tipos auto-suficientes que nem esse sr. são coisas que não precisavam existir e os do tipo da mulher, poderaim existir mais, tudo permeado pelo bom senso, claro!

Abraços.

Fábio.

Cara de 30 disse...

Mais algumas das risadas que meus amigos de blog me fizeram dar hoje... Textos inspirados, hein?!

Morri de rir com os comentários também... Afinal, o tal do Zeca gava ou não?

Robson Schneider disse...

Amigos só sinto não existir celular com câmera naquela época... O moço do óculos foi algo assim... como direi...
S U P E R N A T U R A L !!!!

Alessandra Castro disse...

Tem gente parece que realmente naum nasceu no planeta terra.

Debaixo das Asas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Thiago Cavalcante disse...

Oi, Robson!
AconteOi, Robson!
Bom dia!
Adoro chuva. Suas águas impelem-me ao renovo.
Abraço.